Nos dias 7 e 8 de outubro, a Fundação Getulio Vargas (FGV) realizou o Encontro do Centro Regional da América Latina da rede internacional de pesquisa Evidence in Governance and Politics (EGAP). O objetivo principal do evento foi reunir acadêmicos e formuladores de políticas para trocar ideias e promover colaborações. As discussões focaram em intervenções baseadas em evidências e projetos de pesquisa voltados para reformas na segurança e justiça.
A iniciativa foi realizada no âmbito do Programa de Mestrado e Doutorado Acadêmico em Administração da FGV EBAPE e contou com o apoio do Programa de Excelência Acadêmica da CAPES (CAPES PROEX), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e das universidades colombianas Los Andes e EAFIT. A organização ficou a cargo dos codiretores do Hub Regional da EGAP, Leopoldo Fergusson (Universidad de los Andes) e Santiago Tobón (Universidad EAFIT), e dos professores Joana Monteiro e Cesar Zucco Jr. (FGV EBAPE), além do pesquisador Santiago Pérez-Vincent (BID).
Segundo Joana Monteiro, uma das organizadoras do evento, "esses encontros são fundamentais para a gente trocar, tirar dúvidas, pedir opiniões e ouvir os outros; são momentos de oxigenar o cérebro e nos inspirarmos sobre os trabalhos dos outros". Além disso, a professora destacou o encontro como uma oportunidade valiosa para unir acadêmicos e gestores públicos, para que ambos possam colaborar mais diretamente, superando as barreiras de linguagem e tempo.
Colaboração internacional e troca de experiências
O evento contou com a presença de representantes das forças de segurança pública e da Justiça Criminal do estado do Rio de Janeiro, além de autoridades de países como Colômbia, Equador, Chile e Argentina. Também estiveram presentes 12 pesquisadores de universidades estrangeiras e representantes de organizações da sociedade civil, que atuam diretamente com temas relacionados à segurança pública e ao crime organizado.
Para Marcela Meléndez, do Banco Mundial, o encontro representou uma oportunidade única para "refletir sobre como medimos a atividade criminosa, especialmente o crime organizado, que está em expansão na região, e pensar em maneiras de entender dimensões que não são visíveis". Meléndez ressaltou também que a geração de informações precisas é essencial para orientar as decisões de políticas públicas e garantir que as ações do Estado sejam mais eficazes no combate ao crime organizado.
Discussões acadêmicas e novas iniciativas
O primeiro dia do encontro foi dedicado a sessões de feedback acadêmico, com o objetivo de incentivar a colaboração entre pesquisadores e aprimorar a qualidade das pesquisas apresentadas. Nessas sessões, acadêmicos de diversos países discutiram metodologias utilizadas na mensuração do impacto de grupos criminosos armados em diferentes regiões.
Os debates giraram em torno de questões de violência, crime organizado, políticas públicas e seu impacto em contextos de vulnerabilidade. Entre os estudos apresentados, destacaram-se discussões sobre capital humano, imigração e efeitos colaterais de políticas de segurança em diferentes regiões, como Colômbia, Ucrânia, México e Brasil.
Já o segundo dia do encontro iniciou com uma discussão liderada pelo BID, que apresentou um marco conceitual para a análise dos grupos criminosos organizados na América Latina. Santiago Pérez-Vincent, pesquisador do BID, destacou que "a colaboração entre a academia e os tomadores de decisão é fundamental, pois precisamos que a academia se aproxime das questões relevantes para as políticas públicas".
Nos painéis seguintes, foram discutidas as consequências das atividades dos grupos criminais armados em El Salvador, além de iniciativas de medição desses grupos em cidades como Rio de Janeiro e Medellín; e projetos para medição de atuação nacional dos grupos no Brasil, México, El Salvador e Chile.
Conclusões e próximos passos
O encontro foi concluído com considerações finais dos organizadores e com o compromisso de continuar avançando nas discussões e nas pesquisas que buscam entender e combater a atuação dos grupos criminosos na América Latina.
“Quem cria a demanda por políticas públicas não é o governo nem a academia, mas a população. E para que essas políticas sejam eficazes, é essencial que a academia e o governo trabalhem em coprodução desde o início. Não basta que o governo implemente ou que a academia ofereça diagnósticos; é preciso uma construção conjunta com diálogo constante entre as duas partes”, compartilhou Joana Monteiro no encerramento do evento.